terça-feira, 10 de maio de 2011

O Ovo


Entrar no silêncio do ovo
e ficar.
Um tempo grande sem consciência.
Entrar no silêncio do ovo
e ficar,
penetrar no mais profundo do tempo.


Há muito tempo pressinto
o branco.
Sou um ovo
com um pingo de luz.
Me reinicio em branco,
asas, azul-virgem-sonoras,
pois o azul eu escuto.


Escutar o silêncio e nele
buscar os sons mais tranqüilos,
como os sons do ovo,
enquanto germina.
Entrar no silêncio do ovo,
decidir-se ovo
de um espaço novo,
maduro para nascer.
Em que mundo?
Em que paisagens?
Quero um novo Sol, não este.
Estou à procura de luz própria.


O mistério está atento o tempo todo
dentro do ovo
onde estou
em estado de espera.
Nem é tão fácil nascer.
Quero escolher, coar, colher
o sumo que trago em mim,
entrar no silêncio do ovo,
ficar em estado de ovo,
sentir a esperança do ovo...
Saber-se ovo é poder ruminar,
recriar-se... ovo... ovo... ovo...


Do ovo onde estou é cedo para nascer.
Estou me parindo aos poucos.
Quero doer, pulsar, gemer, rasgar,
quero sentir o arrepio do mistério
do não ser ainda!


E, porque quero, decido:
sou mangueira mulher,
mas não darei frutos.
Vou esperar as chuvas primeiras,
para me enfeitar de ovos.
Me quero grávida de passarinhos.


Sou passarada, revoada!!!

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