quinta-feira, 24 de março de 2011

O Rio



Então ainda um pingo,
semente de rio.
Um fio d’água,
um risquinho molhado,
aguinha trêmula,
enfezada, indecisa.

De dentro de um rasgo invisível,
de um rochedo dobrado em si,
prega de um talho no granito

Escorre em lágrima

Um instinto milenar
Uma teimosia ancestral
Suga os tecidos úmidos da terra

Córrego entre margens contido
menos que um rio, peleja, escava,
se assanha, rola fazendo espuma
burila arredonda seixos
cresce, aprendiz..

Gerado, parido, nutre a vida.
Berço, raízes, cardumes,
ele mesmo estrada e viajante,
rasga, delira em fuga,
irmana-se aos que afluem.

S’espraia contínuo.
Em volutas barrocas,
brinca com os ribeirinhos,
joga-se em piruetas molecas
tropeça despenca em  cachoeira.

Avoluma-se.  
Agora faz parte da geografia
Batizado em língua Tupi
Orgulhoso corre o Rio
bem comportado, passeia
entre velhos sobrados

Mascara-se com a lama dos mangues
É folião no bloco dos caranguejos
Na quarta feira de cinzas
Acabada a bebedeira...
Oh euforia! Sente o gosto do Sal
O rio acorda... Já era Mar.

Nenhum comentário: