terça-feira, 24 de maio de 2011

Ela e o passarinho



Com o olhar esquecido olhou a chuva. O vento rodopiava desfolhando a jaqueira imensa. As mangueiras como que bailando, retorciam os galhos mais tenros.
Os pássaros adoidados, procuravam ninhos. O cheiro da terra suada.
A chuva grossa caía!

Um pardal caiu do ninho, um passaritinho de nada, só bico, estava nu, os olhos ainda fechados. Trânsido de frio.
Ela fez um berço de papel picado, macio, e o dia todo como só as fêmeas sabem fazer, alimentava aquele bico faminto.

Começa ali, seu < aprender passarinho > ela nada sabia de fome, sabia sim, que o bico aberto, esperava alguma lagarta moída. Mas, não viria.
Amassou e umedeceu a ração para pintos, uma quase papinha leve, e ofereceu... observou... o passarico alimentado ficou tranqüilo, dormiu.

Agora, aquela coisinha abria o bico, e ela começou a perceber os sinais. Comia, dormia, batia um toco de asa, se rebolava mal jeitoso... se preparava.
Cresceu rápido o passarinho, agora era dono do quarto dela, voava solto. Se empoleirava nos livros, se aninhava nos potes de barro, vezes muitas se escondia. Deu de pular em seu ombro, se aninhava em seus cabelos, puxava os fios, desaparecia em seu coque, aquietava-se.

Ela tinha um pássaro grudado nela, à quem pertencia, como um ninho pertence à um passarinho... ela ria... o que pensa ele que sou? Uma árvore, sua árvore preferida, a sua árvore que andava, quantas vezes ela gozava desse afeto doce, tanto amor num simples passarinho. E assim os dias se passavam, ele... fazia parte...

Mas um dia... que susto! Desce do monjolo um pardal, pousa na gaiola sem fundo, pousa na graminha, juntos, saltitavam por ali, era um macho, só então percebeu, a sua era uma femeazinha. Voaram juntos! O coração aflito, a gaiola deserta, o alpiste! A sua menina voltou algumas vezes, bicava seus cabelos, aninhava-se.

Ela sentia o seu corpinho quente, pesadinho, conversavam, diziam-se saudades.
Começou catando gravetos e fiapos, sumia. Na árvore, bem ao lado da porteira, já agora uma família, teceram um ninho. Ela cuidava, para que não faltasse o chamego e espalhava alpiste na graminha, na gaiola sem fundo tinha sempre água fresca.

Ela esperava... no tempo certo... lalairilalá... ninana nará!!!
SOU AVÓ PÁSSARINHO!!!

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